Artigo: Era uma vez… – Valdetário Andrade Monteiro

A pequena Taubaté deu ao mundo a genialidade de Monteiro Lobato e sua ímpar capacidade de encantar gerações descrevendo o universo infantil em livros e seriados de TV. O escritor teve a sua obra materializada em personagens que povoaram o inconsciente coletivo desde o século passado.

Muitos podem estar se perguntando se seria este, mais um articulado sobre o famoso Sítio do Picapau Amarelo, obra prima de Lobato.

De logo respondo que infelizmente não o é, e também, que infelizmente, parece ser.

Das últimas informações noticiadas mundialmente, agora um pouco apagadas pela Copa do Mundo, soubemos que a política tolerância zero de Donald Trump com imigrantes ilegais, separou quase dois mil menores de idade de suas famílias nas últimas oito semanas (O POVO, 19/06/2018).

Milhares de crianças e adolescentes recolhidas a verdadeiras prisões nos Estados Unidos da América, fazendo com que o sacrossanto direito universal ao sonho lúdico de dias melhores, fosse de arrabalde substituído pelo pior dos pesadelos.

Dezenas de brasileirinhos e brasileirinhas estão afastados dos pais vendo a face horrenda do mais tenebroso personagem de Lobato, a Cuca, bruxa com forma de jacaré que transformava Narizinho em pedra, quando não a ameaçava de comê-la viva.

Não acredito ter bom senso, pai ou mãe, filho ou filha deste planeta Terra que não visualize a perversidade de “Donald Cuca”, ao tentar diminuir a entrada ilegal em seu país pela via cruel da geração de traumas humanos.

São fortes as constatações de tratamento inadequado com os menores, permeando danos psicológicos irreparáveis e constrangimento psíquico de proporções agudas. Trata-se de uma situação de risco à incolumidade física e moral das crianças, que passam por situação vexatória e atentatória à dignidade humana.

Mesmo na saborosa alegria de vivenciarmos mais uma Copa do Mundo, na salutar esperança de sermos Hexa Campeões, aquele choro distante, mas estridente deve nos motivar a lutar pela sofrida “Narizinho”, tão carente de pai e mãe.

Valdetário Andrade Monteiro

Conselheiro do CNJ e presidente da ACLJUR

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(artigo publicado no Jornal O Povo – 25 de jan de 2018)